Portugal tem muitas cidades que foram palco de acontecimentos que ficaram para a história, muitos dos quais deram origem a lendas que todos conhecemos. Claro que não encontramos localidades com estas características apenas em território nacional. Mesmo aqui ao lado, em Espanha, existem centenas de aldeias e cidades com um passado tão rico quanto o nosso. É o caso de Ciudad Rodrigo. Fica apenas 30 quilómetros da vila fronteiriça de Vilar Formoso, e desempenhou um papel crucial na história de Portugal.
A pequena cidade com cerca de 14 mil habitantes ergue-se numa face rochosa ao lado do rio Águeda, e esta altitude acaba por afetar as temperaturas da região — embora sejam bastante semelhantes às nossas. Os verões são quentes e secos, e os invernos são húmidos e frios.
No entanto, é muito provável que os visitantes de Ciudad Rodrigo não tenham planos de passar as tardes a apanhar banhos de sol. Dizemos isto porque a atração principal desta pitoresca localidade são vestígios dos séculos repletos de eventos históricos que por ali aconteceram, alguns deles com impacto do nosso lado da fronteira.
Nasceu como um povoamento celta e tinha um nome bastante diferente: Miróbriga. No entanto, após a invasão romana durante a conquista da Lusitânia (que decorreu entre 155 e 139 antes de Cristo), passou a chamar-se Augustobriga.
Mais tarde, no século XII, a localidade foi repovoada pelo rei Fernando II de Leão, e foi nessa altura que foram erguidas as muralhas que se tornaram o principal marco deste destino.
Por ali se viveu numa paz relativa durante vários séculos, mas tudo começou a mudar após 1810, quando a cidade foi invadida pelo francês marechal Ney e pelas suas tropas, numa das campanhas das Guerras Napoleónicas. O confronto durou 24 dias, e opôs os franceses ao exército de 5.500 homens do marechal Don Andreas de Herrasti. Acabaram por se render quando os invasores conseguiram rebentar com as muralhas da cidade. Morreram 461 espanhóis e 4 mil foram capturados. O lado inimigo apenas perdeu 180 soldados.
Após a rendição dos espanhóis, a cidade foi assaltada, mas, para os portugueses, houve uma vantagem: a duração do conflito fez com que a invasão do marechal André Masséna a Portugal — no âmbito do mesmo plano de conquista de Napoleão — fosse atrasada em um mês.
Dois anos se passaram, e parecia instalar-se alguma tranquilidade e liberdade na região, tudo mudou. Na noite de 19 de janeiro de 1812, a cidade espanhola foi novamente invadida, desta vez pelo general britânico Arthur Wellesley, 1.° Duque de Wellington. Tal como acontecera dois anos antes, as muralhas começaram a ser destruídas e os locais acabaram por perder também esta batalha, o que fez com que o território fosse conquistado. Graças a esta vitória Wellington acabou por ser apelidado de Duque da Ciudad Rodrigo.
Wellington acabou por ganhar todas as batalhas em que participou, cerca de 32. Um dos destaques da vida desta figura foi a batalha de Waterloo, em 1815, que o colocou frente a frente com Napoleão Bonaparte. O britânico saiu vencedor, chegando ao fim a era Napoleónica na Europa. Curiosamente, foi esta mesma batalha que deu origem ao tão famoso bife Wellington.
Uma cidade que foi palcos de tantos eventos históricos dignos de notas quanto esta não carece de monumentos que valemuma visita. A Catedral de Santa Maria foi construída no século XII ao estilo românico. Não tem um tamanho extraordinário, mas o interior é verdadeiramente arrepiante, graças aos pilares e aos detalhes de pedra no teto. Ali também encontra esculturas medievais e túmulos.
Porém, não precisa de visitar um monumento específico para mergulhar na história da cidade. Uma simples deambulação pelas muralhas acabam por transportá-lo aos séculos passados, graças às várias e antigas mansões que ali se mantêm. O Palácio Castro, por exemplo, distingue-se pela fachada única, enquanto que o Palácio de Águila se destaca pelo grande e verde jardim com dois pátios.
Enquanto lá estiver não poderá ignorar a praça principal do centro histórico. Entre alguns dos marcos arquitetónicos que por lá encontrará, distinguem-se o edifício do século XVI que atualmente acolhe a câmara municipal e uma capela.
Onde ficar
Em Ciudad Rodrigo encontra um castelo que foi mandado construir por Henrique II de Inglaterra no século XIV, e que tem como pano de fundo o próprio rio Águeda. Atualmente é um parador, ou seja, um hotel dentro de um edifício histórico.
O interior está repleto de mobiliário tradicional castelhano, vários detalhes da época, pátios soalheiros e divisões bastante confortáveis. Os quartos também são bastante clássicos, com chão de cerâmica e os móveis de madeira escura.
Para maio, encontra quartos para duas pessoas disponíveis desde os 215€.
Como lá chegar
Para chegar a Ciudad Rodrigo, a melhor opção é mesmo pegar no carro e aproveitar as paisagens que Portugal tem para lhe oferecer pelo caminho. Dizemos-lhe isto porque o aeroporto mais próximo, em Salamanca, fica a 1h30 de distância da cidade histórica.